No campo da religiosidade, a Mesopotâmia poder ser vista como um “grande caldeirão” de crenças e divindades. Muitos desses deuses possuíam forma humana (masculina ou feminina) e geralmente tinham suas características vinculadas a elementos da natureza ou corpos celestes. Em diversas culturas poderíamos encontrar a presença de divindades comumente adoradas como Shamash (deus do Sol e da justiça), Anu (senhor dos céus), Sin (deusa da Lua) e Ishtar (deusa da guerra e do amor).
A partir do culto às forças da natureza, as concepções religiosas dos antigos povos mesopotâmicos desenvolveram um complexo de crenças sobre a criação, a imortalidade e o papel do homem na Terra. Em vista do caráter teocrático das sociedades da região, tais crenças exerceram papel relevante na determinação da arte, da sociedade, da política, das leis e da economia.
Os deuses
Apesar de a mitologia mesopotâmica ser ampla e complexa, seus deuses se organizavam em uma hierarquia clara, de acordo com a influência de seu poder. Os mais importantes eram: An (deus do céu), Enlil (deus do ar), Enki (deus da água) e Ninhursag (mãe-terra). Foram eles que, através de suas palavras, teriam criado o mundo. Desse mito talvez tenha nascido a crença no poder das palavras divinas.
Os filhos desses deuses estavam um degrau abaixo na escala de poder divino. Eram milhares de divindades, cada uma responsável por um aspecto do mundo, por uma parte do universo, agindo com o intuito de manter em funcionamento o plano iniciado por seus pais.
Os mesopotâmicos acreditavam que esses deuses, principalmente os deuses criadores, estavam muito distantes e muito ocupados com suas tarefas, para dar atenção às necessidades dos homens. Assim, para suprir as carências humanas, também existiam os deuses pessoais, que cuidavam da orientação de cada indivíduo e de sua família.
No panteão sumério, a posição mais alta era ocupada por An (Anu, para os acadianos), deus do céu, que governava as estações e o calendário. Abaixo dele estava Enlil, deus dos ventos e da agricultura, inventor da enxada e executor das decisões da assembléia dos deuses.
No mesmo nível de Enlil achava-se Ninhursag, deusa das montanhas rochosas e dos nascimentos. Enki (Ea) era o deus que presidia sobre a doce dos rios e pântanos, o criador dos homens e inventor da civilização, pai de Marduk e divindade da sabedoria e da magia. Ereshkigal e seu esposo, Nergal, reinavam no mundo subterrâneo. Acreditava-se também na existência de demônios, espíritos malignos causadores de doenças e desgraças e que deviam ser conjurados por meio de rituais de magia.
Nas religiões mesopotâmicas existiam duas concepções sobre a origem do homem. Segundo textos sumérios, o homem surgiu, assim como a planta, da cova aberta pela enxada de Enlil. No mito de Enki e Ninmah, o homem, gerado por Enki a partir do limo das águas profundas, nasceu do corpo de Nammu. O mito acadiano de Atrahasis atribui a Enki a morte de um deus rebelde cujo sangue, misturado com barro por Nintur, permaneceu em gestação no ventre de 14 deusas que deram à luz sete casais de gêmeos. Para os mesopotâmicos, a natureza humana era ao mesmo tempo terrena e divina.
O pensamento religioso dos povos mesopotâmicos tinha traço dualista, admitindo a existência de deuses inclinados para o bem e para o mal. Dessa maneira, a magia, a adivinhação e a astrologia eram utilizadas como meios de interação e conhecimento dos desígnios desse complexo conjunto de divindades. A prática religiosa era estabelecida nos ambientes públicos e privados, sendo os zigurates os principais centros de adoração da população.
As crenças e práticas religiosas moldaram a cultura dos antigos sumérios e acadianos, bem como, de seus sucessores, os assírios e babilônios, habitantes da Mesopotâmia até pouco antes da era cristã. A religiosidade mesopotâmica influenciou também as crenças de outros povos do Oriente Médio, tais como hititas, arameus e israelitas.
As informações sobre as religiões mesopotâmicas foram obtidas nas tábulas de argila encontradas nas ruínas da Babilônia, Nippur e Ur, da grande biblioteca reunida por Assurbanipal em Nínive (no século VII a.C.) e nos restos arqueológicos de templos, zigurates, vasos pintados e baixos-relevos.
Por volta de 4000 a.C. praticava-se o culto às forças da natureza, com frequência representadas sob formas não-humanas e consideradas divindades da fertilidade por habitantes dos pântanos, pastores e agricultores. Um segundo período começou por volta de 3000 a.C. com o culto a deuses de aparência humana. Suas atribuições e funções se distinguiam claramente, sem que nenhum deles se sobrepusesse aos outros. No terceiro período, a partir do ano 2000 a.C., a religião passou a ter caráter mais individual e a envolver conceitos como pecado e perdão. A antiga sociedade divina democrática transformou-se numa estrutura monárquica absolutista dominada por um dos deuses.
Religião e Literatura
A escrita e a literatura surgiram muito cedo na Mesopotâmia (no fim do quarto milênio a.C.) e reuniram grande número de mitos sobre a origem dos deuses, do mundo, dos homens, dos heróis e das cidades.
Influenciada pelos seus valores religiosos, a literatura mesopotâmica era repleta de mitos que explicavam a origem dos deuses e do mundo. A obra “O mito da criação” relata a origem do mundo graças aos feitos de Marduk, uma das principais divindades dos babilônios. Na “Epopéia de Gilgamesh” temos as desventuras do gigante que, em tempos remotos, teria controlado a cidade de Uruk. Segundo alguns estudiosos, algumas lendas contidas nesse livro são próximas às narrativas do Antigo Testamento.
Templos
Na época das cidades-estados, os templos eram o centro da vida econômica, política e cultural.
Ao redor do templo desenvolvia-se a atividade comercial. O patesi representava o deus e combinava poderes políticos e religiosos.
O governante encarregava-se do templo do deus da cidade, enquanto sua mulher cuidava do templo da deusa local.
Cada cidade-estado tinha seu deus protetor, que era honrado pelo rei do local e pelos mais importantes sacerdotes. Um templo em forma de pirâmide de degraus, o zigurate, era construído para servir como sua morada. O mais famoso zigurate foi construído para o deus Marduk, localizava-se na Babilônia e também é conhecido por Torre de Babel.
Os Reis e os deuses
Durante o segundo e primeiro milênios a.C., quando Babilônia e Assíria emergiram como estados nacionais, seus reis responsabilizavam-se pelo culto nacional e cada monarca supervisionava a administração de todos os templos em seus domínios. Durante longo período, os soberanos foram divinizados e eram protegidos ritualmente contra qualquer ameaça ou desvirtuamento de seus poderes.
Em ocasiões especiais realizavam-se rituais, como a purificação do rei ameaçado pelos maus espíritos envolvidos num eclipse lunar ou a designação de um substituto que corresse riscos no lugar do rei. O papel do soberano adquiria especial importância nas festas do ano novo, na primavera e quando se celebravam o triunfo do deus sobre as forças do caos e a renovação do reino.
Os sacerdotes
Os sacerdotes praticavam a magia (com água, fogo, pedras e ervas) e a adivinhação. Deus era representado como uma estátua de madeira preciosa banhada em ouro, mas não estava confinado nela. Os sacerdotes cozinhavam para o deus, vestiam-no e cantavam hinos laudatórios para alegrá-lo ou elegias para apaziguá-lo. As práticas religiosas, quase sempre de caráter privado, realizavam-se no interior do templo, e só em dias especiais a imagem do deus era levada às ruas, em procissão. Periodicamente comemoravam-se as festas do calendário sagrado, de caráter fundamentalmente agrícola.
Apenas ao sacerdote era permitida a entrada no templo e dele era a total responsabilidade de cuidar da adoração aos deuses e fazer com que atendessem as necessidades da comunidade. Os sacerdotes do templo estavam livres dos trabalhos nos campos, dirigiriam os trabalhos de construção de canais de irrigação, reservatórios e diques. O deus através dos sacerdotes emprestava aos camponeses animais, sementes, arados e arrendava os campos. Ao pagar o “empréstimo”, o devedor acrescentava a ele uma “oferenda” de agradecimento. Com a necessidade de controlar os bens doados aos deuses e prestar contas da administração das riquezas do templo iniciou-se o sistema de contagem e a escrita cuneiforme. Como exemplo do poder dos deuses em Lagash, o campo era repartido nas posses de aproximadamente 20 divindades, uma destas, Baú, possui cerca de 3250 hectares, das quais três quartos atribuídos, um em lotes, as famílias singulares, um quarto cultivado por assalariados, por arrendatários (que pagam um sétimo ou um oitavo do produto) ou pelo trabalho gratuito dos outros camponeses. Em seu templo trabalham 21 padeiros auxiliados por 27 escravas, 25 cervejeiros com 6 escravos, 4 mulheres encarregadas do preparo da lã, fiandeiras, tecelãs, um ferreiro, alem dos funcionários, dos escribas e dos sacerdotes.
As sacerdotisas de sangue real eram consideradas as esposas humanas dos deuses e participavam como noivas dos rituais do casamento sagrado. Havia outras classes de sacerdotisas, muitas das quais concebidas como ordens de freiras.
Fontes: Portal EmDiv / Uol Educação / Wikipédia / Brasil Escola
Leia também!
► A Arte Mesopotâmica
► O Comércio na Mesopotâmia
Valter,
ResponderExcluirMuito obrigado pelos seus comentários em meu blog!
Há muito tempo seu seu blog já consta como um dos meus indicados.
abraços,
Prof. Omar
muito bom,gratidão pelo conteúdo ..
ResponderExcluirBom
ResponderExcluir