terça-feira, 31 de agosto de 2010

Assírios x Babilônicos

Apesar da superioridade militar, o Império Assírio foi derrotado por babilônicos e tribos iranianas


Representação do Cerco de Nínive.

A casa era a cara do dono. Escavadas nas paredes de pedra, cenas de tirar o fôlego: armadas com couraças, elmos, escudos côncavos, lanças e arcos, as tropas reais encurralam os inimigos e os empurram para um rio. Homens e cavalos, crivados de flechas, afogam-se na correnteza. Em triunfo, um soldado passeia pelo campo de batalha exibindo a cabeça de um rei adversário. Sim, tais cenas de terror faziam parte da decoração do palácio de Assurbanipal (668-631 a.C.), o temido e cruel soberano da Assíria. O emblemático painel, no entanto, tem dois significados históricos. Representa, ao mesmo tempo, a vitória de Assurbanipal sobre reino do Elan em 650 a.C. – e o começo do fim da Assíria. Com o conflito contra os seus mais antigos vizinhos, os assírios incendiaram a velha rixa com os aliados dos elamitas, os babilônicos, e ainda deixaram suas fronteiras expostas aos bárbaros que habitavam o atual Irã. A região virou um barril de pólvora. E o início da guerra total foi uma questão de tempo. O embate com a Babilônia, apoiada pelas tribos iranianas, pôs um ponto final na história do primeiro grande império da humanidade.

Sem dúvida, a habilidade militar foi tanto a força quanto a fraqueza da Assíria. Desde o ano 1200 a.C., o reino de Assurbanipal brigou pelo domínio da Mesopotâmia, hoje Iraque, com a vizinha Babilônia. Entre os assírios, a guerra era um dos principais deveres do soberano. “Havia uma tradição anual de campanhas militares, programadas para afirmar a autoridade assíria e prevenir ataques nas fronteiras. Os reis, ao subirem ao trono, faziam um juramento de estender os domínios do deus Assur, que dava nome à capital”, escreveu o arqueólogo inglês John Curtis, curador de antiguidades da Mesopotâmia e do Irã no Museu Britânico, em Londres. Segundo Curtis, ao longo do século 9 a.C., a autoridade assíria começou a se estender além das fronteiras próximas aos vales dos rios Tigre e Eufrates e começou a alcançar as regiões montanhosas próximas ao Irã, e partes da Síria, da Palestina e da Turquia. Por trás do sucesso das conquistas territoriais, aconteceu a organização do exército. “É um tema que tem gerado debates, mas uma coisa certa é que eles desenvolveram um exército regular”, diz o historiador John Brinkman, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. “Antes os camponeses tinham de ser recrutados periodicamente para lutar e, depois, desmobilizados. Agora, no entanto, o exército funcionava o ano todo e tinha se profissionalizado.”

A dimensão do poder de fogo das tropas assírias ganha realidade nas esculturas e baixos-relevos da época. Usando capacete cônico de ferro e colete coberto de escamas metálicas, os arqueiros do rei de Assur jogavam uma chuva de flechas sobre as cidades inimigas, enquanto eram protegidos por outros soldados, carregando grandes escudos de madeira. Parte dos guerreiros especializava-se em cortar os suprimentos de água do inimigo ou, com a ajuda de armaduras pesadas e a cobertura dos arqueiros, abria buracos nas muralhas de proteção dos reinos inimigos. Os assírios contavam até com “tanques” de guerra, veículos cobertos com pesado couro e equipados com aríete que arrebentava os portões das cidades atacadas. Em tempos de alta tecnologia de guerra, não é fácil imaginar o poder de fogo desses rudimentares equipamentos. Mas era essa parafernália que fazia a fama dos reis da Assíria, temidos por todo o Oriente Médio.

A formação do império

Temidos fora de casa, ameaçados internamente. A partir de 827 a.C., os nobres se rebelaram, seguindo-se um longo período em que os soberanos perderam a autoridade. A situação só mudou com a chegada de Tiglat-Falasar III ao trono, em 741 a.C. Ele pode ser considerado o pai do Império Assírio: esmagou os revoltosos e não se contentou em só arrancar tributos dos vencidos, mas impôs governadores nomeados e anexou as terras conquistadas aos seus domínios, fazendo nascer, assim, a noção de império como conhecemos hoje. Os reis que vieram depois dele – Sargão II, Senaqueribe e Assaradon – deram continuidade à política expansionista. No caminho dos vorazes reis assírios, no entanto, estavam as tribos caldéias, no sul da Mesopotâmia. Na tentativa de arrebanhar o poder na Babilônia, eles se aliaram aos elamitas para frear a ambição assíria. Originalmente os caldeus eram nômades do deserto da Arábia. Séculos antes, fixaram-se nas cidades, tornando-se poderosos comerciantes.

Ao longo do século VII a.C., os caldeus conseguiram estabelecer forte pressão contra os assírios. Contando com a aliança dos elamitas, os caldeus procuraram pôr fim ao domínio assírio naquela região. Os caldeus, apoiados pelos elamitas, chegaram a assassinar o herdeiro do rei Senaqueribe, que tinha sido nomeado governador da Babilônia. Em represália, o monarca mandou destruir a cidade. Durante o reinado de Assurbanipal, os elamitas ajudaram novamente os babilônicos, liderados pelos caldeus, a se rebelar. Mas acabaram aniquilados pelos assírios. A vitória, no entanto, assinou a sentença de morte do grande império. “Parece haver um consenso entre os estudiosos de que, quando os assírios destruíram o Elam, removeram um estado-tampão importante que os protegia dos iranianos”, diz Brinkman. Na época, os habitantes da região onde hoje está fincado o Irã viviam sob o domínio dos ferozes medos, povo de origem iraniana, que contava com poderosos exércitos. Aliando-se aos babilônicos, os medos conseguiram dar fim à hegemonia do Império Assírio. Em 612 a.C., depois da captura da cidade de Assur, medos e caldeus atacaram juntos Nínive, a capital do império, e a arrasaram em três grandes batalhas. O profeta judeu Naum, cujo povo também tinha sofrido a pressão assíria, comemorou a derrota com versos presentes na Bíblia: “Todos os que ouvem tua história [a de Nínive] batem palmas ao ouvi-la; pois sobre quem tua crueldade não passou continuamente?”. Os herdeiros do império, agora, eram os babilônicos.

O mundo sem os assírios

A decadência do Império Assírio é um somatório de acontecimentos: guerra civil, campanhas militares internas para manter os domínios e, principalmente, a guerra contra os medos, os líderes das tribos iranianas. Acostumados à vida nômade, eles tinham a vantagem de uma liderança fortemente centralizada e de um exército simples, mas eficaz, composto por lanceiros e arqueiros. Quando a cidade de Assur foi destruída, o rei dos medos, Ciaxares, jurou amizade e aliança ao chefe caldeu sobre as ruínas da cidade. Tal acordo dividiria o mundo antigo entre os dois povos. O rei Nabopolassar e seu filho, Nabucodonosor, ficaram com o sudeste: Mesopotâmia, Síria, Palestina. Já os medos se expandiram por todo o Irã, pelas montanhas do Cáucaso e por parte da atual Turquia. Mais tarde os persas, vassalos dos medos, herdaram o império e o expandiram sob o comando do rei Ciro, o Grande.

Fontes: Aventuras na História / Brasil Escola

3 comentários:

  1. O interessante é que parece que a História faz um paralelo: povos organizados ruíram ante uma horda de exércitos numerosos e simples.

    Agora, queria saber como foi a forma de influência assíria no Reino de Judá? Só tributação?

    De resto, sempre que tenho tempo acompanho o blog, excelente! O melhor é ver mais um fã de Gladiador!

    Para finalizar esse artigo, poderia usar a frase "MENE MENE, TEQUEL PARSIM", que se aplica a Assírios tbm.

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  2. Oi Valter vc saberia me dizer qual era a distância em quilometros ou horas da Assíria para a Babilônia?

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