terça-feira, 27 de julho de 2010

A primeira guerra da história

Embora existam indícios de guerras ocorridas em torno de 2700 a.C. na região onde hoje ficam o Iraque e o Irã, as primeiras provas concretas de um conflito militar são um pouco posteriores


Estela dos Abutres - comemora a vitória militar da cidade
de Lagash sobre a cidade de Umma, Museu do Louvre.

"Provavelmente, as mais antigas batalhas sobre as quais temos evidências claras são relacionadas ao estado de Lagash", diz o historiador John Baines, da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Essa cidade-estado, localizada na Suméria (no sudeste do Iraque), teria travado uma guerra de fronteira contra Umma, outra cidade-estado da Suméria, por volta do ano 2525 a.C. Nessa época, tais centros urbanos viviam em constante rivalidade pelo domínio econômico, territorial e político.

Também disputavam matérias-primas escassas na região, como madeira, além de cobre e estanho, minérios necessários para produzir o bronze usado em armas e ferramentas agrícolas. "A Suméria era relativamente superpovoada, com diversas cidades importantes competindo pelo controle de terras aráveis ou acesso à água, o que resultava em disputas entre elas, muitas vezes resolvidas pela força", diz o historiador Steven Muhlberger, da Universidade Nipissing, no Canadá. Era uma fase de transição para Estados urbanizados, capazes de construir muralhas para proteger seus centros administrativos e mobilizar exércitos numerosos, treinados para lutar segundo táticas mais ou menos definidas. Suas sociedades estavam organizadas para a guerra, centralizadas de forma totalitária em torno de reis hereditários. Com poder político e religioso, esses reis exerciam controle sobre os templos e os recursos acumulados pelas cidades, comandando a produção de armas e a convocação de soldados.

Prova milenar
Pistas sobre o confronto foram reveladas por um velho monumento de pedra.

A cidade-estado de Lagash, na antiga Suméria, foi descoberta no século 19. Nas ruínas, encontrou-se uma placa de pedra conhecida como "Estela dos Abutres". Trata-se de um fragmento de um monumento maior, erguido em homenagem ao líder Eannatum, que comandou Lagash em torno de 2500 a.C. Além de inscrições, a estela (bloco de pedra) possui relevos mostrando vários aspectos da guerra travada contra Umma - uma cidade-estado vizinha -, inclusive cenas de soldados mortos sendo devorados por abutres. Hoje, essa relíquia histórica está abrigada no Museu do Louvre, em Paris.

Corpo-a-corpo sangrento
Soldados de cidades rivais da Suméria se enfrentaram com foices há quase 5 mil anos.

Símbolo de comando
Ao buscar vestígios da primeira guerra da história, arqueólogos encontraram adagas e pequenas espadas com lâminas de ouro e cobre. Acredita-se, porém, que essas armas feitas com materiais preciosos eram usadas como símbolo de comando, e não para combate.

Entregues às feras
Os cadáveres do exército derrotado provavelmente tinham suas armas recolhidas e depois eram abandonados no campo de batalha para serem consumidos por animais selvagens. É possível, porém, que em algumas ocasiões os vencedores reunissem os corpos dos rivais em grandes pilhas e os queimassem.

Tática do atropelamento
Naquela época, quase três milênios antes de Cristo, já havia rústicas carruagens de combate, com dois eixos fixos e puxadas por quatro animais - talvez mulas selvagens ou jumentos. Mas como elas eram pesadas, tombavam com facilidade e tinham limitada capacidade de manobra, serviam mais para aterrorizar os inimigos e atropelá-los.

Tropa disciplinada
Há indícios de que os guerreiros lutavam de forma organizada, com uniformes e armas relativamente padronizados. Isso aparece em imagens de monumentos milenares, que mostram soldados alinhados em unidades com até seis fileiras de homens. Mas é impossível saber se essas imagens são representações artísticas ou se descrevem cenas reais.

Armamento camponês
Na luta de corpo a corpo, as principais armas eram machados de batalha com formatos variados, lanças com pontas metálicas e foices especiais. Ao contrário da foice usada na agricultura, a de batalha tinha a lâmina afiada no seu lado convexo (externo), facilitando os golpes contra o inimigo.

Vestidos para matar
Capacetes de cobre protegiam a cabeça dos soldados, que trajavam mantos de couro, reforçados nos pontos mais vulneráveis por discos metálicos. Parte da infantaria era equipada com grandes escudos retangulares de madeira. Lutando lado a lado, os soldados podiam juntar seus escudos e formar uma parede contra as lanças inimigas.

.:: Revista Mundo Estranho


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sábado, 17 de julho de 2010

A escrita cuneiforme

A escrita suméria, grafada em cuneiforme, é a mais antiga língua humana escrita conhecida. A sua invenção deve-se às necessidades de administração (cobrança de impostos, medidas de cereal e etc.)




Escrita cuneiforme (alemão: Keilschrift) é a designação geral dada a certos tipos de escrita feitas com auxílio de glifos em formato de cunha. É, juntamente com os hieróglifos egípcios, o mais antigo tipo de escrita, tendo sido criado pelos Sumérios na antiga Mesopotâmia por volta de 3500 a.c.

Inicialmente a escrita compunha-se de marcas simples, depois depictogramas, depois as formas tornaram-se mais simples e abstractas. Os primeiros documentos eram gravados em tabuletas de argila, em sequências verticais de escrita, e com um estilete feito de cana que gravava traços verticais, horizontais e oblíquos. Em breve, tornou-se comum o uso de linhas.

Duas novidades tornaram o processo mais rápido e mais fácil: os escribas começaram a escrever em sequências horizontais (rodando os pictogramas no processo), e um novo estilete em cunha inclinada passou a ser usado para empurrar o barro, enquanto produzia sinais em forma de cunha.

Ajustando a posição relativa da tabuleta ao estilete, o escriba poderia usar uma única ferramenta para fazer uma grande variedade de signos.




As tabuletas cuneiformes podiam ser cozidas em fornos para prover um registro permanente. Muitas das tabuletas achadas por arqueólogos foram preservadas porque foram «cozidas» durante os ataques incendiários de exércitos inimigos, contra os edifícios no qual as tabuletas eram mantidas.

Inventada pelo sumérios para registrar a língua suméria, a escrita cuneiforme foi adoptada pelos Acadianos, Babilônicos, Elamitas, Hititas e Assírios — e adaptada para escrever em seus próprios idiomas; foi extensamente usada na Mesopotâmia durante aproximadamente 3 mil anos, apesar da natureza silábica do manuscrito (como foi estabelecido pelos Sumérios) não ser intuitiva aos falantes de idiomas semíticos.

A língua suméria

A língua suméria é uma língua isolada, que não está diretamente relacionada a nenhuma outra língua conhecida, apesar das várias tentativas equivocadas de provar ligações com outros idiomas.

A língua suméria é aglutinante, ou seja, os morfemas (as menores unidades com sentido da língua) se justapõem para formar palavras.

Os sumérios inventaram o sistema cuneiforme de escrita, que foi utilizada em toda a Mesopotâmia e por povos vizinhos.




Os Acádios, após conquistarem a Suméria, adoptaram o sistema cuneiforme para materializar a própria língua.

A escrita cuneiforme começou como um sistema pictográfico, onde o objecto representado expressava uma idéia. Um barco marcado por determinados sinais, por exemplo, poderia significar que ele estava carregado ou vazio.

Com o tempo, os glifos cuneiformes passaram a ser escritos em tábuas de argila, nos quais os símbolos sumérios eram desenhados com um caniço afiado chamado estilete. As impressões deixadas pelo estilete tinham forma de cunha, razão pela qual sua escrita é designada cuneiforme.

Um corpo extremamente vasto (muitas centenas de milhares) de textos na língua suméria sobreviveu, sendo que a maioria está gravada nas tabuinhas de argila.




Os textos sumérios conhecidos incluem cartas pessoais e de negócios e/ou transações comerciais, receitas, vocabulários, registos de leis, hinos e rezas, encantamentos de magia e textos sobre Matemática, Astronomia e Medicina. Inscrições monumentais e textos sobre diversos objectos, como estátuas ou tijolos, também são bastante comuns.

Muitos textos sobrevivem em múltiplas cópias pelo facto de terem sido transcritos repetidamente por escribas "estagiários".

A escola de Edubba (termo sumério que significa "Casa de Tabuinhas"), por exemplo, era um dos centros de aprendizagem onde arquivos e escritos literários eram guardados (ou seja, grafados) em tabuinhas de argila. Edubba foi um dos primeiros centros acadêmicos e um dos primeiros receptáculos de sabedoria de que se tem conhecimento.

A compreensão dos textos sumérios hoje em dia pode ser problemática até mesmo para especialistas. Os textos mais antigos são os mais difíceis, pois não mostram a estrutura gramatical da língua de forma sólida.

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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sargão I, o Grande

Sargão, o Grande como é chamado por modernos historiadores, foi um brilhante líder militar, bem como um administrador energético e inovador




Sargão (do acádio Sharrum-kin: "rei legítimo" ou "rei verdadeiro") teria sido um líder militar incomparável, além de enérgico administrador, responsável por sucessivas conquistas na região que hoje se estende do sul do Iraque até o norte da Síria, incluindo o Líbano e, também, o sul da Turquia.

Fundador da dinastia de Acade, Sargão reinou por 56 anos, de 2270 a 2215 a.C. Tornou-se um membro proeminente da corte real de Kish, acabando por derrubar o rei local antes de partir para a conquista da Mesopotâmia. O vasto império de Sargão teria se estendido de Elam ao mar Mediterrâneo, incluindo toda a Mesopotâmia, partes dos atuais Irã e Síria, e possivelmente partes da Anatólia e da península Arábica. Governou a partir de uma nova capital, Acádia (Akkad), que a lista de reis sumérios alega ter sido construída por ele (ou possivelmente reformada), situada na margem esquerda do Eufrates. Sargão é o primeiro indivíduo registrado na história a ter criado um império multiétnico governado a partir de um centro, e a sua dinastia governou a Mesopotâmia por cerca de um século e meio.

Sargão foi o primeiro rei a unir a Mesopotâmia sob o comando de uma só pessoa, sendo que o império acádico por ele montado passou a ser o padrão para outros governantes.

Origens e ascensão ao poder

Em épicos escritos muitos séculos depois temos o relato de seu nascimento humilde, sendo que seu pai era desconhecido e sua mãe uma sacerdotisa. Como recém-nascido, ele foi colocado numa cesta de vime e enviado rio abaixo (tal qual Moisés muito depois), tendo sido criado sob a proteção da deusa Ishtar. Mais tarde, ele se tornou num alto oficial da corte de Kish. Após um fracasso militar do governante da época e problemas na sucessão deste monarca, Sargão tomou o poder. Não se sabe muito sobre quais foram as circunstâncias exatas sobre como isto se deu.


Cabeça de bronze dos séculos XXIII-XXII a.c.
(possivelmente Sargão I), encontrada entre
as
ruínas de Nínive; Museu de Bagdá, Iraque.

A história do nascimento e da infância de Sargão é listado na "lenda de Sargão", um texto sumério que alega ser a biografia do monarca. As versões mais antigas estão incompletas, porém os fragmentos restantes dão o nome de seu pai como La'ibum. Depois de uma lacuna, o texto pula para Ur-Zababa, rei de Kish, que acorda depois de um sonho, cujo conteúdo não é revelado na parte restante das tabuletas que contêm o texto. Por motivos desconhecidos, Ur-Zababa indica Sargão como seu serviçal. Pouco tempo depois, Ur-Zababa convida Sargão aos seus aposentos, para discuir um sonho que este havia tido, que envolvia o favor da deusa Inanna e o afogamento de Ur-Zababa pela deusa. Profundamente assustado, Ur-Zababa ordena que Sargão seja assassinado pelas mãos de Beliš-tikal, o ferreiro-mor, porém Inanna consegue impedir, exigindo que Sargão pare diante de seus portões por estar "poluído com sangue". Quando Sargão retorna a Ur-Zababa, o rei se assusta novamente, e decide enviar Sargão ao rei Lugal-zage-si, de Uruk, com uma mensagem numa tabuleta de argila, pedindo-lhe que matasse Sargão. O relato da lenda é interrompido neste ponto; presumivelmente as seções que faltam indicariam como Sargão se tornou rei.

A Lista de Reis Sumérios relata: "Em Agade [Acádia], Sargão, cujo pai era um jardineiro, o copeiro de Ur-Zababa, se tornou rei, o rei de Agade, que construiu Agade; ele governou por 56 anos." A alegação de que Sargão teria sido o fundador original de Acade foi questionada recentemente, com a descoberta de uma inscrição que menciona o local, datada do primeiro ano de Enshakushanna, que quase seguramente o precedeu. Esta alegação da Lista de Reis foi a base para a especulação anterior, feita por diversos acadêmicos, de que Sargão teria sido a inspiração para a figura bíblica de Nimrod. A Crônica de Weidner afirma que Sargão teria construído Babilônia "diante de Acade". A Crônica dos Reis Antigos afirma igualmente que, no fim de seu reinado, Sargão "escavou o solo do poço de Babilônia, e fez uma equivalente de Babilônia próxima a Agade." Recentemente, alguns estudiosos afirmaram que estas fontes poderiam estar se referindo a Sargão II, do Império Neo-Assírio, e não a Sargão da Acádia.

Um texto neo-assírio do século VII a.C., que alega ser a autobiografia de Sargão, afirma que o grande rei seria o filho ilegítimo de uma sacerdotisa. No relato neo-assírio o nascimento e a infância de Sargão são descritos:

“ Minha mãe foi uma alta sacerdotisa, meu pai eu não conheci. Os irmãos de meus pais amavam as montanhas. Minha cidade é Azupiranu, que se situa às margens do Eufrates. Minha mãe, alta sacerdotisa, me concebeu, em segredo me pariu. Colocou-me numa cesta de juncos, e selou-o com betúmen. Colocou-me no rio, que se elevou sobre mim, e me carregou a Akki, o carregador de água. Akki, o carregador de água, me aceitou como seu filho e me criou. Akki, o carregador de água, me nomeou como seu jardineiro. Enquanto eu era um jardineiro, Ishtar me concedeu seu amor, e por quatro e [...] anos eu exerci o reinado. “

A imagem de Sargão como um indesejado sendo colocado para flutuar num rio lembra a narrativa mais conhecida do nascimento de Moisés. Estudiosos como Joseph Campbell e Otto Rank compararam o relato de Sargão, do século VII, com os nascimentos obscuros de outras figuras heróicas da história e da mitologia, como Karna, Édipo, Páris, Télefo, Semíramis, Perseu, Rômulo, Gilgamesh, Ciro, Jesus, e outros.

Formação do Império Acadiano

Após assumir o poder em Kish, Sargão logo atacou Uruk, que era governada por Lugal-Zage-Si, de Umma. Conquistou Uruk e demoliu suas célebres muralhas. Os defensores parecem ter fugido da cidade, juntando-se a um exército liderado por cinquenta ensis das províncias. Esta força suméria disputou duas batalhas campais contra os acadianos, que terminaram com a debandada das forças restantes de Lugal-Zage-Si. O próprio Lugal-Zage-Si foi capturado e trazido a Nippur; Sargão inscreveu no pedestal de uma estátua (texto que foi preservado num tablete posterior) que trouxera Lugal-Zage-Si "numa coleira de cão até os portões de Enlil." Sargão perseguiu seus inimigos até Ur, antes de se deslocar para leste, até Lagash, no golfo Pérsico, e daí até Umma. Fez um gesto simbólico de lavar suas armas no "Mar Baixo" (nome dado às águas do golfo), para mostrar que havia conquistado o território da Suméria em sua totalidade.
Outra vitória celebrada por Sargão foi sobre Kashtubila, rei de Kazalla. De acordo com uma fonte antiga, Sargão destruiu a cidade com tamanha intensidade que "os pássaros não conseguiam encontrar um lugar mais alto que o solo para repousar."

Para ajudar a limitar a chance de revolta na Suméria, Sargão nomeou uma corte de 5400 homens para "partilhar de sua mesa" (ou seja, administrar seu império). Estes 5400 homens devem ter formado o exército de Sargão. Os governadores, escolhidos por Sargão para administrar as principais cidades-estado da Suméria, eram acadianos, e não sumérios. O acadiano, uma língua semita, se tornou a língua oficial nas inscrições feitas em toda a Mesopotâmia, bem como a lingua franca da região, com influência nos territórios vizinhos. O império de Sargão manteve contatos comerciais e diplomáticos com os reinos em torno do mar da Arábia e por todo o Oriente Médio. As inscrições de Sargão relatam que navios de Magan, Meluhha e Dilmun, entre outros locais, ancoravam na sua capital, Agade.

As antigas instituições religiosas da Suméria, já bem conhecidas e emuladas pelos semitas, foram respeitadas. O sumério continuou a ser majoritariamente a língua da religião, e Sargão e seus sucessores foram patronos dos cultos sumérios. Enheduanna, autora de diversos hinos acadianos, e identificada como filha de Sargão, tornou-se sacerdotisa de Nanna, a deusa da lua de Ur. O próprio Sargão se intitulou "sacerdote ungido de Anu" e "grande ensi de Enlil".

Ampliação do império

A seguir, dirige-se para o norte da Mesopotâmia. As inscrições antigas dão conta de que ele teria dominado as cidades de Mari e Tuttul (na atual Síria), chegando a enviar expedições à Anatólia, às margens do mar Negro. Ao todo, os escritos da Lista de Reis Sumérios - a principal fonte sobre a história da Suméria - citam 34 guerras desencadeadas por Sargão.


O império de Sargão, fim do século XXIV a.C..

Pouco tempo após dominar a Suméria, Sargão embarcou numa série de campanhas militares que visavam subjugar todo o Crescente Fértil. De acordo com a Crônicas dos Reis Antigos, um texto historiográfico babilônico tardio:

“ [Sargão] tinha rival nem igual. Seu esplendor, sobre as terras ele espalhava. Cruzou o mar no oriente. No décimo-primeiro ano conquistou a terra ocidental, em seu ponto mais distante. Colocou-a sob uma autoridade única. Ergueu suas estátuas ali e transportou o butim do ocidente em barcas. Estacionou seus oficiais de corte a cada intervalo de cinco horas-duplas, e governou em união com as tribos das diferentes terras. Marchou a Kazallu e transformou Kazallu num monte de ruínas, de tal maneira que não havia nada que servisse de poleiro para um pássaro. “

Em seqüência Sargão marchou contra a Mari, Ebla e Yarmuti conquistando-as. No oeste, Sargão se voltou para conquistar “as florestas de cedro e as montanhas de prata”, isto é, o Líbano e as montanhas Taurus, a cordilheira paralela à costa do Mediterrâneo, na Anatólia (Turquia). O Império Acadiano dominou assim as rotas comerciais, para que o fornecimento de madeira e metais preciosos pudesse fluir com segurança pelo Eufrates, chegando até a Acádia.

No Oriente, Sargão derrotou uma invasão feita pelos quatro líderes de Elam, liderados pelo rei de Awan. A guerra contra o Elam foi dura, mas os elamitas perderam ante o poderio de Sargão. Suas cidades foram saqueadas; os governadores, vice-reis e reis de Susa, Barhashe e dos distritos vizinhos se tornaram vassalos da Acádia.

Subjugou os amorreus, os elamitas e todo o Iran ocidental. Sargão foi aclamado “Rei da Terra” e “Rei dos Quatro Cantos”. Não foi somente um líder militar, mas também foi um administrador engenhoso.

A língua Acadiana se tornou o idioma oficial do discurso internacional. Durante o reinado de Sargão, o acadiano foi padronizado e adaptado para o uso com a escrita cuneiforme utilizada anteriormente com o idioma sumério. Um estilo de caligrafia desenvolveu-se no qual o texto em tabletes de argila e cilindros de cera era distribuído entre cenas mitológicas e rituais.

Administração

Um componente importante da política de Sargão e razão do seu sucesso era nomear membros de sua família, que fossem de inteira confiança, para cargos estratégicos.

Ele escreveu: "os filhos da Acádia preenchem as tarefas de enki (autoridades locais) nos países." Sua filha Enheduanna tornou-se alta sacerdotisa da cidade de Ur, dedicada a Inana/Ishtar e Anu. Ser alta sacerdotisa de Ur era uma das posições mais importantes do Sul da Mesopotâmia. Dentre os escribas, Enheduanna é uma das únicas (dentre homens e mulheres) que era conhecida por seu próprio nome, sendo que uma de suas obras-primas é um poema chamado " A Exaltação de Inana".

Outro fator de sucesso de Sargão na articulação de um governo centralizado eram as ordens por escrito e suas mudanças gerais a nível de administração. Ele criou por decreto um exército de 5.400 homens, de acordo com textos existentes. Este foi provavelmente o primeiro exército profissional. O comércio esta centralizado na Acádia e navios da costa, de origem do Golfo Pérsico, eram obrigados a parar no porto das docas vizinhas da Acádia.

Por exemplo, quando Sargão conquistava cidades-estado, ele destruía suas muralhas de forma que rebeldes em potencial perdessem suas fortalezas. Se o governador estivesse disposto a mudar sua lealdade para Sargão, o monarca acádio mantinha a velha administração no poder. De outra forma, ele preenchia os cargos com pessoas de sua confiança. Desta forma, Sargão incentivava o colapso do velho sistema de cidades-estado, movendo-se na direção de uma administração centralizada.. Sargão instalou guarnições militares em pontos-chave para administrar seu vasto império e assegurar o recebimento ininterrupto de tributos. Ele foi o primeiro rei a ter um exército a seu serviço em tempo integral. Sua capital, a cidade de Ágade logo se transformou numa das cidades mais prósperas e magníficas da antigüidade. A localização exata de Ágade permanece desconhecida, mas Ágade deu nome ao idioma e à dinastia deste grande imperador e gênio militar.

Fim do reinado

O texto conhecido como Épico do Rei da Batalha mostra Sargão avançando com suas tropas rumo ao coração da Anatólia, para proteger mercadores acádios e mesopotâmicos das extorsões que sofriam do rei de Burushanda (Purshahanda). O mesmo texto menciona que Sargão teria cruzado o Mar do Oeste (Mar Mediterrâneo) indo até Kuppara.

Fome e guerras ameaçaram o império de Sargão durante os últimos anos de seu reinado. A Crônica dos Reis Antigos relata que diversas revoltas eclodiram por toda a região neste período.

“ Posteriormente, em sua [de Sargão] velhice, todas as terras se revoltaram contra ele, e o sitiaram na Acádia; e seu amplo exército ele destruiu. Em seguida ele atacou a terra de Subartu, com todo seu poder, e eles submeteram-se às suas armas, e Sargão pacificou aquela revolta, e os derrotou; conseguiu derrubá-los, e seu amplo exército ele derrotou, e trouxe suas posses para a Acádia. O solo das trincheiras da Babilônia ele removeu, e as fronteiras da Acádia fez à semelhança das da Babilônia. Porém, devido ao mal que ele havia cometido, o grande senhor Marduk, furioso, destruiu seu povo com a fome. Da aurora ao pôr-do-sol combateu-o, sem lhe dar trégua. “

A literatura posterior sugere que as rebeliões e outros distúrbios do final do reinado de Sargão teriam sido resultado de atos sacrílegos cometidos pelo rei. O consenso atual é de que a veracidade destas alegações é impossível de ser determinada, já que os desastres eram virtualmente sempre atribuídos a sacrilégios, inspirados na ira divina frequentemente mencionada na literatura mesopotâmica antiga.

Legado

Sargão morreu, de acordo com sua curta cronologia, por volta de 2215 a.C.. Seu império imediatamente se revoltou, ao ouvir as notícias da morte do rei; a maior parte destas revoltas foi debelada pelo seu filho e sucessor, Rimush, que reinou por nove anos e que foi sucedido por outro filho de Sargão, Manishtushu, que reinou por 15 anos. Sargão foi visto como um modelo para os reis da Mesopotâmia por cerca de dois milênios depois de sua morte; os reis assírios e babilônios se viam como herdeiros do seu império. Reis como Nabonido (reinou de 556 a 539 a.C.) mostrou grande interesse na história da dinastia sargônida, e até mesmo chegou a realizar escavações dos palácios de Sargão e de seus sucessores. Alguns destes governantes podem até mesmo ter se inspirado nas conquistas do rei para iniciar suas próprias campanhas ao redor do Oriente Médio. O texto de Sargão em neo-assírio desafia assim seus sucessores:

“ Os povos de cabeça negra [sumérios] eu comandei, eu governei; poderosas montanhas, com machados de bronze eu destruí. Escalei as montanhas superiores, e passei pelo meio das montanhas inferiores. O país do mar eu sitiei por três vezes; Dilmun eu capturei. Até o grande Dur-ilu eu fui, eu (...) eu alterei (...) Todo rei que for exaltado depois de mim, (...) Que ele comande, que ele governe os povos de cabeça negra; que poderosas montanhas, com machados de bronze, ele destrua; que ele escale as montanhas superiores, que ele passe pelo meio das montanhas inferiores; que ele sitie o país do mar por três vezes; que Dilmun ele capture; que ele vá ao grande Dur-ilu. “

Outra fonte atribuiu a Sargão o desafio "qualquer rei que agora queira se dizer igual a mim, onde quer que eu tenha ido [conquistado], que ele vá."

Histórias do poder de Sargão e de seu império podem ter influenciado o corpo de textos do folclore local que foi posteriormente incorporado à Bíblia. Diversos acadêmicos especularam que Sargão pode ter sido a inspiração para a figura bíblica de Nimrod, que aparece no Gênesis, bem como na literatura midráshica e talmúdica. A Bíblia menciona Acádia como uma das primeiras cidades-estado do reino de Nimrod, porém não afirma de maneira explícita que ele a teria construído.

Família

O nome da principal esposa de Sargão, Tashlultum, e de diversos de seus filhos, são conhecidos.


Placa de argila escrita em sumério; Faz
referência a Enhedu'anna, filha de Sargão,
Babilônia, entre os séculos XX a XVII a.C..

Sua filha, Enheduanna, que viveu durante o fim do século XXIV a.C. e início do século XXIII a.C., foi uma sacerdotisa, autora de diversos hinos rituais. Diversas de suas obras, incluindo a sua Exaltação de Inanna, foram utilizados nos séculos seguintes. Sargão foi sucedido por seu filho, Rimush; após a morte de Rimush outro de seus filhos, Manishtushu, subiu ao trono. Os nomes de dois de seus outros filhos, Shu-Enlil (Ibarum) e Ilaba'is-takal (Abaish-Takal), também são conhecidos.

Fontes: Uol Educação / Wikipédia / Angelfire / Templo de Apolo


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