domingo, 20 de dezembro de 2015

D. Sebastião I

D. Sebastião - destemido e aventureiro - transformou-se num mito após o seu desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir, no norte de África. Sua suposta morte abriu as portas à crise dinástica que vai colocar os reis de Espanha no trono português



Sebastião I de Portugal reinou entre os anos 1554 e 1578. Foi o Vigésimo sexto rei de Portugal. Foi o sétimo rei da Dinastia de Avis, neto do rei João III de quem herdou o trono com apenas três anos. A ele são atribuídos os títulos: O Desejado, O Encoberto ou O Adormecido.

Era filho do príncipe Dom João e de Dona Joana de Áustria, Seus avós paternos eram o rei de Portugal Dom João III e a Rainha Dona Catarina. Seus avós maternos eram o imperador Carlos V e a Imperatriz Dona Isabel. Dona Isabel era irmã de Dom João III. Seu nascimento foi muito festejado por se temer um problema de sucessão na coroa portuguesa.

Segundo Boxer: “D. Sebastião recebera o cognome de “o desejado” ainda quando estava no ventre de sua mãe”. O pai morrera dias antes de seu nascimento, e todos os nove filhos de D. João III haviam morrido sem deixar herdeiros legítimos, logo, a única esperança de salvar Portugal de uma eventual sucessão castelhana era uma criança do sexo masculino, desta forma, Dom Sebastião era um rei que tinha sido pedido a Deus com tantas lágrimas, peregrinações, procissões e esmolas, que seu nascimento fora marcado por grandes manifestações de júbilo popular”. (BOXER, 2002, p. 379)

Regência
 
Quando Dom João III morreu, em 1557, apesar de este ter tido nove filhos, todos eles acabaram por falecer precocemente. Sendo seu neto e único herdeiro direto que restara, foi coroado rei com três anos, quatro meses e vinte e dois dias de idade. Foi nomeado um regente até que o jovem rei tivesse idade para governar.

A regência foi assegurada primeiro pela sua avó, a rainha Catarina de Áustria, viúva de D. João III, e depois pelo tio-avô, o Cardeal Henrique de Évora, (23 de Dezembro de 1562 -1568). Neste período, para além da aquisição de Macau em 1557 e Damão em 1559, a expansão colonial foi interrompida. A premência era a conjugação de esforços para preservar, fortalecer e defender os territórios conquistados.

Durante esta período foi educado austeramente pelos jesuítas, tornando-se um homem religioso. Cresceu na convicção de que Deus o criara para grandes feitos, e, recebendo ensino e treinamento entre dois partidos palacianos de interesses opostos - o de sua avó que pendia para a Espanha, e o do seu tio-avô o cardeal D. Henrique favorável a uma orientação nacional . Ao atingir os catorze anos - sua maioridade – não tendência a nenhuma das orientações políticas. Mostrou desde muito cedo duas grandes paixões: a guerra e o zelo religioso.

Reinado
 
Em 1568, fora recebido na condição de rei sob grandes expectativas. Por tal motivo, ficara conhecido como Sebastião, O Desejado. A espera por sua chegada ao trono representava a voz da burguesia lusitana, que pretendia enriquecer-se com a conquista de novas terras.

Durante o ano de 1570 esforçou-se em desvencilhar da influencia dos dois grupos que outrora o educou (durante os 11 anos de período regencial).

Esperava-se que desse continuidade às invasões e expedições marítimas já iniciadas por seus antecessores. Ele empenhou-se na preparação de um exército objetivando ganhar prestígio militar para satisfazer tais expectativas. Essas operações tinham como objetivo além da aquisição de novas terras, obtenção de especiarias e ouro, ou seja, tudo o que pudesse ser importante para a ampliação do tesouro português.

Tomou medidas para aumentar a segurança da navegação da Carreira das Índias. Investiu na defesa militar dos territórios. Procurou proteger a marinha mercante e construir ou restaurar fortalezas ao longo do litoral, pois na rota para o Brasil e Índia, os ataques dos piratas eram constantes e os muçulmanos ameaçavam as possessões no Marrocos, atacando, por exemplo, Mazagão em 1562.

A atividade legislativa centrou-se em assuntos do foro religioso, como, por exemplo, a consolidação da Inquisição e sua expansão até à Índia, a criação de novos bispados na metrópole e nas colônias. Em 1577, cria uma lei favorável aos cristãos-novos.

Estabeleceu de uma nova universidade em Évora - entregue aos Jesuítas. Criou o Instituto de Santa Marta, para viúvas e órfãos da peste de 1560, autorizou, em 1571, a publicação de ‘Os Lusíadas’ de Luis Vaz de Camões.

Dedicava-se às caçadas, interessava-se pela leitura de livros de História principalmente pela História Portuguesa.

 D. Sebastião não chegou a casar, embora tivessem sido feitos dois projetos: com Margarida de valois (filha de Henrique II de França) e com Isabel de Habsburgo (filha do Imperador Maximiliano II). Para o império, a incerteza quanto da sucessão tornou-se grande problema, pois não foi assegurada.

Intervenção na África
 
D. Sebastião era movido por um grande fervor religioso e militar. Nascera no período das Cruzadas. Elas eram difundidas como uma forma de resgatar as almas perdidas pelo mundo e levá-las para o Reino de Deus através da incorporação de novos fiéis ao cristianismo.

Pensava em reconquistar as praças abandonadas por D. João III (Alcácer Ceguer, Arzila, Azamor e Safim). Buscou dar continuidade ao processo de expulsão que deu origem aos Estados Ibéricos, dirigindo seus esforços contra os mouros no norte da África. A determinação expressa do rei significava o avivamento de uma antiga crença que dizia que Deus iria transformar Portugal em um rico império.

A retomada do projeto da África o ajudou para a definição de sua autonomia no reinado. Em 1572, deixa a regência a D. Henrique e faz uma viagem pelo Norte de África. Sonhava dominar essa área e recuperar os territórios. Em 1574, os turcos tinham reconquistado Tunis, e eram senhores de todo o norte de África, excetuando Marrocos, cujo controle do reino se decidia na disputa entre Mulei Mohammed (o Xarife deposto), e o seu tio Mulei Moluco, que contava com o apoio turco.

Juntamente com os turcos, Felipe II, rei da Espanha e D. Sebastião tomam parte no conflito marroquino. Por volta de 1576, D. Sebastião estabeleceu uma "perigosa" aliança com Moulay Mohammed.

O nexo da intervenção é claramente explicado em carta do próprio D. Sebastião a D. João de Mendonça em 1576, onde manifesta preocupação crescente sobre a ameaça dos turcos que fariam Mulei Moluco seu vassalo, ameaçando as praças portuguesas em Marrocos, e o próprio regresso dos andaluzes do Reino de Granada à Espanha: "Não é somente para dar a posse daquele Reino ao tio do Xarife, mas principalmente com o fundamento de o fazerem tributário e vassalo do Turco, e o Turco se fazer Senhor de toda África, e de todos os portos de mar dela, tendo em cada uma delas muitas galés que lhes será fácil de pôr em efeito. Assim, pela natureza da mesma terra, como por seu grande poder, que quando assim acontecesse, o que Deus não permita, visto é quantos males sem remédio poderiam recrescer a toda Espanha, que da Cristandade se pode dizer que é hoje a melhor e maior parte, e com este intento queria que não somente cuidareis nesta matéria e a discorrereis para me nela dardes parecer e conselho no que farei e devo fazer..."
 
A fim de formar numeroso exército, pediu auxílio a Estados estrangeiros, contraindo empréstimos, arruinando, desta forma, os cofres do reino. Em 1578, organizou as tropas - na sua maioria aventureiros e miseráveis - e embarcou para o Norte de África para confrontar os Mouros em Alcácer Quibir.

Rodeou-se de um grupo de pessoas despreparadas. O próprio rei, contra todos os conselhos de sua corte, parte à frente do exército. Esfomeados e estafados pela marcha e pelo calor, e, apesar de toda a bravura no combate, o exército português foi derrotado em Alcácer Quibir.

José Mattoso relata: “Senhor da sua vontade, não encontrou quem soubesse evitar a sua ida a Marrocos em 1578. A sua valentia física e a preparação militar pessoal não lhe deram qualidades de comando em campo, de que precisava.” (MATTOSO, José (dir.), História de Portugal, 6 vols.. Lisboa, Círculo de Leitores, vol. III, p. 540).

Segundo Boxer (2002): “mais bem vestidas que armadas”, relata-se que a preparação para a batalha mais parecia dirigir-se a uma festa do que a um combate, pois o rei convocou toda a nobreza com seus melhores uniformes, insígnias, medalhas e condecorações, chegando até a levar a coroa real, o resultado foi uma derrota catastrófica com a morte do mesmo e a perda de grande quantidade de objetos e utensílios que representavam a soberania do governo português que perdeu inclusive, sua coroa, principal símbolo do poder do rei.
 
Milhares de portugueses perderam a vida. Das famílias nobres, poucas eram as que não tinham perdido um ou mais dos seus filhos e parentes. Outros tinham ficado cativos. O resgate dos sobreviventes agravou as dificuldades financeiras do país, juntamente com a perda de navios, armas, vestes luxuosas, condecorações e tudo que caracterizava o esplendor da coroa portuguesa. A derrota provoca sérias consequências para o país, colocando em perigo a sua independência.

Controvérsias sobre sua morte na batalha
 
Há controvérsias históricas sobre a morte de D. Sebastião, em Alcácer Quibir. Conta-se que o rei morreu na batalha ou foi morto depois desta terminar. Ao ser aconselhado a render-se, e a entregar a sua espada aos vencedores, o rei tenha-se recusado com altivez, dizendo: "A liberdade real só há de perder-se com a vida." Foram as suas últimas palavras, e é-nos dito que ao ouvi-las, "os cavaleiros arremeteram contra os infiéis”; D. Sebastião seguiu-os e desapareceu aos olhos de todos envolto na multidão.

Segundo Braga: "... O corpo de Dom Sebastião foi recolhido pelos mouros e entregue ao governador português de Ceuta, em 10 de dezembro de 1578, o que não impediu, todavia, que florescesse a lenda segundo a qual o rei havia se salvo, vivendo oculto e penitente". (BRAGA,2001 p. 23)

Em 1582, Felipe II mandou transladar de Ceuta para o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, um corpo que alegava ser o do rei desaparecido. Não se pôde comprovar ser o corpo realmente o de Sebastião I. O Túmulo de Mármore, que repousa sobre dois elefantes, pode ainda hoje ser observado em Lisboa.

Segundo Maria Luísa Martins da Cunha, investigadora e autora, no terceiro volume da sua obra "Grandes enigmas da História de Portugal": “Existem relatos de várias testemunhas que o viram sair vivo da batalha”. A autora afirma que a história da morte do monarca foi apenas uma "invenção por questões políticas" e "com o objetivo de destruir a imagem do rei".
 
Comprova na sua obra, através do testemunho de Sebastião Figueira, que o rei saiu vivo e que o mesmo o acompanhou, reconhecendo-o anos mais tarde em Veneza, apelidado de "Cavaleiro da Cruz" e "D. Sebastião de Veneza". Também o historiador Faria de Sousa já anteriormente o tinha afirmado após análise a documentos escritos por testemunhas da época após o desaparecimento do rei.

Outros indícios que levam a crer que o rei sobreviveu foi o fato de se ter encontrado, no século XIX, uma medalha com a inscrição "Sebastianus Primus Portugaliae Rex" num convento da Ordem de São Agostinho, em Limoges, num túmulo onde estava sepultado um rei com o mesmo nome.

Muitos foram os relatos dirigidos com relação à morte de D. Sebastião. Alguns diziam que o Desejado morrera ao lado de outros combatentes, outros mencionavam que o rei teria desaparecido em meio à batalha de Alcácer Quibir, outros ainda relataram que o monarca fugiu em combate para não ser executado. O que podemos afirmar é que com a ausência do Desejado, Portugal mergulhara num colapso político.

União Ibérica

Em 1580, após delicada crise sucessória, o trono lusitano caiu nas mãos de Felipe II, rei espanhol. Portugal perdeu a sua independência, pois D. Sebastião não deixou sucessores legítimos. Felipe II sendo neto do rei Dom Manuel I, revindicou e subiu ao trono português.

A monarquia dualista durou 60 anos. A independência foi readquirida após a revolução de1640, iniciando o reinado de D. João IV, fundador da dinastia de Bragança.

 Fonte: Wikipédia / Ensina RTP(www.ensina.rtp.pt) / Site História de Portugal(www.hirondino.com) / Brasil Escola(www..brasilescola.uol.com.br) / Rainer Sousa(www.alunosonline.uol.com.br) / Infopédia / Monografia de Rayan Santos Dominici e Valquíria Martins.( www.abhr.org.br) / Portugalsemfim.com(www.portugalsemfim.com) / O Portal da História(www.arqnet.pt) / Blog Nuno Martins(www.nunopeb.wordpress.com) / Histórianet(www.historianet.com.br) / Blasting News(www..pt.blastingnews.com)