Temístocles reconstruiu a muralha de Atenas. Címon decorou e equipou a praça pública, o bairro da Cerâmica e a Acrópole. Mas o verdadeiro “fazedor de obras” ateniense foi Péricles. O patriota Péricles desejava que a beleza de Atenas estivesse à altura de seu prestígio. Ao iniciar essas grandes transformações, ele garantia também trabalho aos atenienses.
Dois trunfos permitiram que ele colocasse seus planos em execução: o decreto de 450 a.C. que lhe dava o direito de dispor do dinheiro necessário para reconstruir os templos destruídos, e a expansão do poderio ateniense, que trouxe riquezas para a cidade.
Qualquer decisão relativa às obras importantes dependia da Assembléia do povo, que confiava a um arquiteto a responsabilidade de fazer os projetos e dar uma estimativa das despesas. Péricles escolheu os artistas e os construtores- dirigidos por um arquiteto, aos quais ele fornecia o material necessário às obras e cuidava para que os prazos fossem respeitados. Sua intenção era utilizar materiais existentes na região da Ática, como o mármore do monte Pantélico, pedras de Elêusis ou de Pireu, mas também importar ouro, marfim e a preciosa madeira.
O diretor dos trabalhos, em quem ele tinha total confiança, era o escultor Fídias, filho do ateniense Charmides, amigo de Péricles que, como ele, tinha cerca de 40 anos. Uma grande cumplicidade os unia. Plutarco escreveu em sua Vida de Péricles que Fídias havia obtido a direção de todas as obras graças à amizade que tinha com Péricles. Os trabalhos foram realizados com sucesso devido à sua autoridade, sua facilidade em tratar com o Estado para fazer passar seus projetos e planos em um prazo muito curto, e desbloquear os créditos necessários.
Antes que seu amigo Péricles lhe confiasse os grandes trabalhos da Acrópole, Fídias já havia dado mostras de seu talento. Suas estátuas, às vezes gigantescas, de Delfos ou do Olimpo, eram conhecidas por todos os gregos. Péricles lhe encomendou a estátua de Atena, dita Lemniana, e a estátua de Atena Partênia. Ele lhe confiou também toda a decoração dos monumentos.
PROPILEU
Para esses grandes trabalhos, Fídias se cercou de artistas excelentes: Ictinos, arquiteto, que fez os projetos do Partenon e dirigiu os trabalhos do Telesterion; Calícrates trabalhou com Ictinos na edificação, realizou os projetos do templo de Atena Niké e construiu o terceiro dos Longos Muros que iam de Atenas até Pireu e Falera. Os três arquitetos, Coroibos, Metagenes e Xenocles dirigiram os trabalhos do Telesterion em Elêusis; os escultores Agorácrito e Alcâmenes, criador das estátuas de Hefaísto e de Atena no templo de Hefaísto.
O maior período de obras de Péricles se situa entre 445 a.C., data da assinatura de paz com Esparta, e 431 a.C., início da Guerra do Peloponeso. Se Péricles desejava construir monumentos magníficos, desejava também facilitar o acesso à Acrópole. O caminho se tornou uma estrada larga onde os cortejos podiam avançar com toda a majestade.
No momento em que terminou a construção do Partenon, Péricles quis portas dignas desse monumento. Assim, imaginou os propileus. Anteriormente, adentrava-se a Acrópole pelas Nove Portas. A pedido de Péricles, os projetos dos antigos propileus de Pisístrato foram conservados, mas ganharam em esplendor e foram removidos do sudoeste para o leste. O propileu era dividido no seu comprimento, em três naves. O pórtico de entrada compreendia seis colunas dóricas com um entablamento e um frontão. Cinco portas ao fundo; a do meio, com mais de 7 metros de altura e cerca de 4 metros de largura. A leste, um segundo pórtico com seis colunas dóricas.
Esculturas magníficas e oferendas decoravam o propileu central: uma loba em bronze de Anfícrates, uma Afrodite de Calamis e a estátua de um soldado ferido. Mnesicles projetou ao fundo dois pórticos. Uma escada em mármore do Pentélico de quatro degraus cortada pela passagem da Via sagrada permitia o acesso aos propileus.
A construção desse conjunto durou cinco anos, de 437 a 432 a.C., mas as fundações custaram muito caro. O povo mostrou-se descontente com esses gastos excessivos. O clero do templo de Atena Niké aderiu às críticas porque Péricles contava utilizar uma parte do terreno pertencente aos deuses para a construção do lado sul. No entanto, não foram esses protestos que interromperam a edificação das portas, mas sim a guerra do Peloponeso. Os dois pórticos do fundo não chegaram a ser iniciados e o propileu central permaneceu inacabado. Apesar das despesas, os atenienses pareciam mais apegados aos propileus que aos outros monumentos. Eles eram a imagem da grandeza da cidade. Alguns os preferiam ao próprio Partenon. Epaminondas dizia que os tebanos só seriam comparáveis aos atenienses quando conseguissem construir em sua cidade propileus parecidos.
Péricles não poderia embelezar sua cidade sem conceder à deusa Atena um templo em mármore que substituísse o pequeno edifício que até então era utilizado. O primeiro templo de Atena Polias data do período miceniano. Dois templos construídos por Pisístrato o haviam substituído por volta de 529 a.C. Um muito modesto foi substituído após a sua destruição pelos persas, quando da Segunda Guerra Médica. Porém, já existia um outro templo desde 579/565 a.C. Chamava-se Hecatombeon porque media 30 metros de comprimento. Por volta de 488 a.C., após a partida dos persas, um novo edifício, de 75 metros de comprimento por 30 metros de largura, foi construído. A construção deste edifício durou quinze anos e começou provavelmente na época das Panatenéias de 447 a.C. Fídias terminou a decoração. O novo Partenon media cerca de 70 metros de comprimento por 30 de largura. As bases foram alargadas. Os operários tiveram de escavar a rocha a leste. A oeste, uma rampa permitia o acesso ao Partenon, após subir oito degraus esculpidos na rocha.
O templo era cercado por colunas: oito na fachada e 17 nas laterais. Essas colunas tinham mais de 10 metros de altura. O edifício era dividido em duas partes: a leste, o Hecatombeon com o local sagrado, e a oeste, o próprio Partenon com o opistódomo (a parte posterior do templo). No alto do salão, um teto em madeira.
Esse monumento era esplêndido por várias razões. Seu mármore era levemente colorido. A estátua de Atena, em ouro e marfim, com 15 metros de altura, representava a deusa vestida com uma longa túnica, sustentando diante dela a égide (escudo) com a cabeça de Górgone, uma estátua de Niké na mão direita, a mão esquerda segurando o escudo, seu elmo ornado com uma esfinge e cavalos alados. O pedestal representava o nascimento de Pandora.
O Erectéion, o centro da Acrópole também necessitava de trabalhos gigantescos. Os antigos contavam que Poseidon e Atena brigaram neste local, cada um querendo se apropriar do Ático. Essas divindades tinham sido adoradas ali durante longos anos nos dois santuários vizinhos que formavam apenas um: o Erectéion.
ERECTÉION
O templo jônico, cuja construção foi interrompida durante a guerra do Peloponeso, foi concluído- no final do século V. O monumento compreendia santuários de Pandrosa, Cécrops, Atena e Poseidon. Próximo desses monumentos foram erigidas estátuas de grande beleza. A de Atena Lemniana em bronze, terminada por Fídias por volta de 450 a.C. A de Atena Promachos, encomendada por Péricles em 449, foi construída- graças ao butim das Guerras Médicas: com altura de 9 metros, a estátua da deusa guerreira segurava a lança e o escudo representando os combates dos centauros e dos lápitas. Essa estátua ficava no alto da Acrópole. Assim sendo, era vista de longe. Conta-se que, do mar, os marinheiros que atracavam ou dobravam o cabo Sounion, na ponta da Ática, viam brilhar a ponta da lança e de seu elmo.
Diante do Partenon resplandecia a estátua em bronze de Apolo Parnopios. Quanto à estátua do próprio Péricles, realizada por Cresilas, também figurava na Acrópole.
Péricles encomendou enfim ao escultor Stypax, o Splanchnoptès em bronze. Esse Splanchnoptès era um escravo de Péricles que trabalhava na Acrópole e um dia caiu do alto do edifício. Ele foi curado por uma planta, a parthenium, sugerida por Atena a Péricles em um sonho.
O dirigente não se contentou em embelezar apenas a Acrópole. Mandou também construir outros monumentos: três deles foram particularmente importantes: o Odeon, pois apreciava a música e queria ver ali a apresentação de concursos, e dois templos, o de Hefaísto e o de Ares.
DEFESA DA CIDADE
O Odeon foi iniciado por volta de 445 a.C., na encosta da Acrópole. Ficou pronto dois anos mais tarde. Além dos concertos, serviu de local para encontros, conferências e até de entreposto comercial. Plutarco nos conta na Vida de Péricles que o edifício era circular e com uma cobertura sobreposta. Mas parece que, na realidade, era construído com mármore, e retangular, sustentado por colunas e com uma cobertura cônica. Foi destruído por um incêndio em 86 a.C.
O templo de Hefaísto era dedicado aos deuses dos artesãos, Hefaísto e Atena Heféstia, que protegiam os ceramistas e os ferreiros do bairro da Cerâmica. Foi construído na colina de Colonos Agoraios, de 449 a 444 a.C.
Alguns anos mais tarde, de 440 a 436 a.C., foi construído o templo de Ares com uma estátua de Alcamene. Ele era cercado por 13 colunas nas laterais. Estátuas douradas da Vitória dominavam o alto, enquanto calhas com cabeças de leão enfeitavam as laterais. Ao mesmo tempo úteis e belos, o relógio de sol do astrônomo Menon, criado em 433 a.C., sobre a parede de Pnyx, os ginásios e os banhos, também foram iniciativas de Péricles.
Por toda parte, mesmo nas menores cidades da Ática, Péricles deixou sua marca. Assim, mandou construir em Sounion os templos de Poseidon e de Atena, e em Ramnunte, o de Nêmesis.
Outra preocupação de Péricles era garantir a defesa da cidade. Uma de suas principais obras foi a construção dos Longos Muros que ligavam Atenas a seus dois portos, Pireu e Falera, que durou cinco anos. Um dos dois muros, com 6 km de comprimento chegava à porta nordeste, enquanto o segundo, com 7 km, passava por caminhos mais escarpados. Entretanto, logo se percebeu que o inimigo poderia chegar pela baía de Falera situada entre os dois muros, se infiltrar entre as muralhas e cortar a ligação entre Atenas e seus portos.
Sócrates relatou que Péricles decidiu então construir um terceiro muro situado entre os dois outros que chegaria a Pireu. O arquiteto Calícrates foi encarregado da elaboração deste último muro do norte, em 445 a.C. Terminou-o dois anos mais tarde. Após a guerra do Peloponeso, os dois muros do norte, destruídos por Lisandro depois da queda de Atenas, foram reconstruídos. Apenas a muralha de Falera, que se tornou pouco útil depois da construção do muro intermediário, foi abandonada. Além disso tudo Péricles promoveu a reconstrução da cidade de Pireu, que confiou a Hipodamus de Mileto.
TRIBUTOS E CUSTOS ALTOS
Em 433 a.C., um decreto de Calias determinou que Péricles e seus filhos eram responsáveis pelas somas empregadas na construção dos monumentos de Atenas. As reclamações se multiplicavam. Os aliados da cidade-Estado que pagavam um pesado tributo, achavam que esse dinheiro não deveria ser utilizado para o embelezamento da cidade. Tentaram levantar o povo ateniense: “Os tributos destinados às despesas de guerra são utilizados para dourar Atenas, diziam. Péricles embelezou sua cidade como uma mulher faceira coberta de pedras preciosas. Eles servem para construir estátuas- magníficas e templos que chegam a custar mil talentos”, relatou Plutarco em sua Vida de Péricles. Os oradores acusavam Péricles de dilapidar o tesouro de Atenas e de utilizar, por capricho, os fundos do Estado. Desse modo, Péricles achou necessário consultar o povo:
“Vocês consideram que gastei demais para embelezar sua cidade?” “Sim”, respondeu o povo.
“Eu me comprometo então a arcar sozinho com as despesas”, respondeu Péricles, “elas não ficarão a seu encargo. Mas, em troca, apenas meu nome será inscrito nos monumentos”.
Os atenienses logo responderam que ele poderia dispor à vontade do Tesouro! Os monumentos construídos por Péricles, cujas ruínas atraem até hoje turistas a Atenas, testemunham a grandeza de uma cidade onde se sucederam os maiores artistas da época e da vontade de um homem, único na história da Grécia antiga.
.:: História Viva
Nenhum comentário:
Postar um comentário