Antes de prosseguir rumo ao Oriente, Alexandre decidiu garantir a posse das cidades marítimas da Fenícia e do Chipre, para assegurar a hegemonia do comércio no Mediterrâneo. Apenas Tiro recusou a oferta de rendição. A cidade foi sitiada por sete meses e caiu diante das máquinas de guerra e das trirremes da Macedônia, em 332 aC.
Dario, vendo o perigo que corria, enviou uma embaixada até Alexandre, para fazer uma proposta de paz. Propôs o pagamento de dez mil talentos pelo resgate dos prisioneiros, além de entregar todos os territórios próximos do rio Eufrates e uma das suas filhas em casamento. O macedônio, por sua vez, exigiu que Dario se entregasse.
Portanto, não houve acordo e os dois exércitos voltaram a se confrontar em Gaugamela (331 aC). No confronto, Alexandre impeliu sua cavalaria diretamente contra a guarda real de Dario, causando muitas baixas e obrigando o inimigo a recuar. A vitória só não foi absoluta porque Parmenion estava sendo derrotado na ala esquerda do combate e, ao pedir ajuda, Alexandre foi obrigado a abandonar a perseguição ao rei persa para auxiliar os companheiros. Mesmo assim, caia definitivamente o grande Império persa e o filho de Filipe e Olímpia era proclamado monarca de toda a Ásia - com apenas 25 anos.
1. 335 a.C.: BATISMO DE SANGUE
As cidades de Tebas e Atenas se rebelam por duas vezes contra o recém-empossado Alexandre. Tebas resiste ao exército do macedônio até o final e é completamente destruída. Atenas, mesmerizada pelo exemplo da cidade vizinha, rende-se.
2. 334 a.C.: BRIGA NOS PORTÕES DA ÁSIA
Com a Grécia estabilizada, Alexandre parte para a Pérsia. Já perto da cidade de Tróia, os 42 mil homens do Macedônio enfrentam o inimigo na batalha de Granico. Por causa da impulsividade de seu líder, que por pouco não foi morto, o exército macedônio ganhou a vantagem da surpresa ao atacar imediatamente o exército rival e destruí-lo.
3. 333.a.C.: ENCRENCA GROSSA COM O MAIORAL
O imperador Dario III recruta cerca de 100 mil homens de toda a Ásia e vai de encontro ao abusado invasor. Apesar da força duas vezes superior, a cavalaria de Alexandre infringiu pânico e desbaratou as tropas de Dario.
4. 332 a.C.: UMA PARADA VIOLENTA
A cidade de Tiro se recusa a aceitar uma cerimônia dos macedônios e Alexandre levanta um cerco. Após meses, os macedônios tomam a cidade, chacinam 8 mil tirenses e escravizam os 30 mil restantes.
5. 331 a.C.: A VITÓRIA DEFINITIVA
A força de 50 mil homens de Alexandre era de qualidade superior ao exército persa, com 90 mil soldados. A tática ousada da cavalaria e o treinamento superior da infantaria macedônia na batalha de Gaugamela resultaram numa vitória conclusiva para Alexandre, agora "rei de toda a Ásia".
6. 326 a.C.: ÍNDIA, A FRONTEIRA FINAL
Alexandre ruma para o leste até se deparar com a resistência do rei Porus, às margens do rio Jelum. A luta, conhecida como batalha de Hisdaspes, resultou em vitória macedônia, mas foi tão sangrenta, que obrigou "o Grande" a dar meia volta e seguir para a Babilônia.
Apenas Tiro recusou a oferta de rendição: foi sitiada por sete meses e caiu diante das máquinas de guerra da Macedônia
Ao entrar na Babilônia e em Persépolis, Alexandre mostrou novamente sua diplomacia: respeitou unilateralmente a cultura dos povos conquistados, não permitindo o saque das cidades e autorizando inclusive os cultos aos seus deuses.
Ele até mesmo incentivou que seus generais se casassem com mulheres persas, gesto muito criticado pelos muitos macedônios que não aprovavam a miscigenação.
Ele próprio desposou uma nativa da Báctria, durante a perseguição ao fugitivo ex-rei persa. Praticamente todos os seus generais criticaram o casamento de Alexandre com Roxana, pois consideravam que ela descendia de um povo inferior e, portanto, não era digna do trono da Macedônia.
Após a conquista das terras de Dario III, o líder macedônio vislumbrou a possibilidade de construir estradas unindo todas as cidades criadas por ele e os territórios anexados, como uma espécie de globalização. Segundo o historiador escocês A. R. Burn, professor da University of Glasgow, Alexandre aprendeu com seus tutores que os persas eram meros bárbaros, mas passou a respeitá-los quando conheceu de perto sua cultura. "O rei macedônio aprendeu a respeitar os inimigos após reconhecer sua coragem em campo de batalha. Além disso, ele passou a admirar até mesmo as questões burocráticas do Império de Dario, como a eficiência do sistema administrativo das pólis", conta ele.
LOUCURAS DE ALEXANDRE
Embora tenha sido um grande visionário, a vida de Alexandre também foi marcada por alguns excessos, como o massacre de Tebas e o assassinato de Clito, o homem que o salvou da morte na Batalha de Granico.
Muitos detratores afirmam que Alexandre sempre foi megalomaníaco. Outros garantiam que o filho de Filipe desejava demais o trono do pai e não mediria esforços para conquistá-lo. Enfim, o certo é que o general macedônio cometeu atos de barbárie semelhante aos praticados pelos inimigos 'bárbaros' em muitas situações. Uma das teorias considera que Alexandre o Grande perdeu o controle quando visitou o oráculo de Siwa, no Egito, e foi reconhecido como um filho legítimo de Zeus. Com o título de faraó, seus súditos passaram a ser obrigados a fazer reverências em eventos oficiais da corte - algo que não combinava com os costumes macedônios da época.
Porém, anos antes disso ele já demonstrava que sua fúria fugia do controle, em algumas ocasiões. Logo após assumir o trono, ele cruzou as Termópilas e rumou à Grécia Central para conter uma grande rebelião, impelindo com violência contra os tebanos. "Chegado diante de Tebas, deu a esta cidade o tempo de se arrepender. Pediu tão somente que lhe entregassem Fênix e Piruetes", narra o historiador Plutarco. Contudo, diante da recusa imediata - e de outras barganhas feitas pelos tebanos - Alexandre avançou contra a cidade.
Os tebanos defenderam-se com bravura, mas não foram capazes de resistir à força dos atacantes. Envolvidos por todos os lados no campo de batalha, as defesas de Tebas caíram. A cidade foi completamente saqueada e destruída, e muitos habitantes foram passados à lança, como forma de assustar outros pretensos revoltosos. Outros tantos homens e mulheres foram vendidos como escravos.
Em 328 aC, já na Pérsia, Alexandre novamente viria a cometer mais atos impensados. Diante de suspeitas de conspiração e traição, mandou que o general Filotas fosse torturado na frente de todos, até a morte. Nem as súplicas serviram para que sua morte fosse menos dolorosa. Em seguida, enviou soldados a Meda, para matar outro suposto conspirador, Parmenion, aliado dos tempos de Filipe e grande guerreiro.
Pouco depois, foi a vez de Clito ser enviado a Hades pela fúria do rei macedônio. Durante um banquete, ele e Alexandre discutiram. O general, segundo Plutarco, teria dito. "Como invejamos a felicidade dos que morreram antes de ver os macedônios flagelados pelas vergas dos medos, e obrigados, para serem recebidos por seu rei, a implorar a proteção dos persas!"
Bêbado, Clito deixou claro que estava insatisfeito com o fato de ser obrigado a banquetear à mesa com ex-inimigos bárbaros. Alexandre levantou- se de sobressalto e, Furioso com as acusações, trespassou o peito do amigo com uma lança.
DO LIMITE AO FIM
A campanha de Alexandre rumo ao Oriente chegou ao fim em 326 aC, pouco depois de derrotar o rajá Porus às margens do rio Hidaspes, na Índia. Além do forte calor e as chuvas que castigavam a região, os hoplitas macedônicos ficaram atônitos diante dos quase 90 elefantes de batalha usados pelo exército inimigo. Foi um dos combates mais sangrentos da Antiguidade.
O confronto começou ainda na madrugada. Porus impeliu todas as suas tropas contra os macedônios e lutou com uma fúria 'quase espartana', sobretudo após perder dois filhos na batalha. Alexandre, vendo sua cavalaria refugar diante dos paquidermes inimigos, reorganizou as tropas e investiu contra o rajá que, pressionado, assumiu a derrota e pediu rendição, após oito horas de escaramuças. Contudo, ao invés de ser executado, o indiano recebeu o perdão do rei macedônio e foi poupado, permanecendo leal a Alexandre.
No local da batalha, foi fundada mais uma cidade, batizada de Bucefália em homenagem ao cavalo Bucéfalo, que tombou no combate.
O monarca queria prosseguir e adentrar mais a fundo no território indiano, mas suas tropas, cansadas de anos de guerra, recusaram a prosseguir a jornada.
Chegava ao fim a vitoriosa campanha de Alexandre o Grande, que retornou à Babilônia, onde, em 324, perdeu o grande amigo Heféstion, supostamente por conta do excesso de ingestão de vinho.
No ano seguinte, o próprio Alexandre viria a adoecer em decorrência da bebida, embora algumas teorias falem de sífilis, malária ou mesmo envenenamento. O certo é que no dia 10 de junho de 323 aC, o soberano do mundo Antigo caiu aos 33 anos, sem nunca ter encontrado um adversário que o derrotasse em batalha.
Após sua morte, os generais deram início a uma briga pela sucessão, que culminou na fragmentação dos territórios conquistados. Ptolomeu foi o único que conseguiu manter a hegemonia local, no Egito. Nas outras partes do Império, disputas internas enfraqueciam cada vez mais a Macedônia. O sonho chegava ao fim.
ENTREVISTA: PAUL CARTLEDGE
O historiador Paul Cartledge, da Cambridge University, é um dos maiores especialistas contemporâneos de história grega, e afirma que há muitas lendas referentes a Alexandre. Em entrevista a Leituras da História, ele afirmou que o número de cidades construídas pelo macedônio certamente é superestimado, além de garantir que houve um motivo real para seu casamento com a báctria Roxana.
Leituras da História - Fala-se muito do ambicioso projeto de Alexandre, de unificar o mundo antigo sob uma mesma bandeira. Além disso, ele concedeu o perdão para muitos ex-inimigos. Seus generais acreditavam nesse sonho?
Paul Cartledge - Poucos generais macedônios compartilhavam esse sonho do rei. Alexandre, contudo, realmente tinha um grande projeto. Ele certamente tinha a idéia de criar um império politicamente unificado, e as estradas seriam um aspecto chave para concretizar esse plano na prática. Os inimigos derrotados de Alexandre transformaram-se, portanto, em assuntos de extrema importância para seu novo império, mesmo porque muitos deles seriam empregados na construção das estradas.
LH - É comumente aceito que Alexandre morreu invicto, sem jamais ter perdido uma batalha. Essas fontes são confiáveis ou há controvérsias?
Paul Cartledge - Houve quatro grandes batalhas durante a campanha: Granico (334), Íssus (333), Gaugamela (331) e Hidaspes (326). Porém, Alexandre e seus generais lutaram muitas outras batalhas menores, especialmente durante a campanha na Ásia Central, entre 330 e 327, além de alguns cercos (o mais importante foi o de Tiro). Houve sim algumas pequenas derrotas, como a falha no cerco de Halicarnasso.
Mas de qualquer maneira, Alexandre foi totalmente vitorioso em sua expedição.
LH - Alguns historiadores afirmam não existir um motivo plausível para justifi- car o casamento de Alexandre com Roxana. O senhor tem alguma teoria?
Paul Cartledge - O pai de Roxana, Oxyartes, governava uma parte vital do território onde hoje fica o Afeganistão. Assim como seu pai Filipe, Alexandre lutou suas guerras em busca de alianças, ou seja, contraiu alianças diplomáticas com as filhas dos líderes derrotados em áreas estratégicas vitais. O casamento com Roxana foi uma forma de criar laços com líderes daquela região.
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